
Há pouco mais de uma semana, o Escritório de Saúde da Prefeitura de Pequim decidiu criar o "Dia sem cuspe", que será dedicado à conscientizar os pequineses sobre o nojo e o perigo à saúde pública do antigo hábito local de escarrar ruidosamente pelas ruas. Não que o governo de Pequim já não venha há anos tentando coibir o hábito, seja através de campanhas de boas maneiras nas diversas mídias da capital (iniciadas há mais de três anos), seja distribuindo saquinhos de papel (para as pessoas cuspirem dentro) ou multando os infratores (a multa é de 50 yuans, ou US$ 7, o que dá para comprar 25 tíquetes de metrô).
O "Dia sem cuspe" se une aos já existentes "Dia de Respeito à Fila" (todo dia 11 do mês) e ao "Dia de Ceder o Lugar" (todo dia 22 do mês) no esforço feito por Pequim — em parceria com o o Comitê de Condução à Civilização
Espirtual (o nome é esse, juro) do Partido Comunista da China (PCC) — para disseminar boas maneiras entre os pequineses. Mas certos hábitos são difíceis de mudar e, com a aproximação das Olimpíadas, o governo da capital está intensificando a campanha de etiqueta que visa dar boa impressão aos cerca de 500 mil estrangeiros (e 20 mil jornalistas) que virão à festa. — O "Dia sem cuspe" visa erradicar um hábito que é um perigo para a saúde pública, mas também promover um estilo de vida mais civilizado — disse Liu Ying, do Escritório de Saúde da prefeitura.O esforço para acabar com hábitos considerados inadequados entre os chineses não se restringe ao cuspe ou a Pequim.
Em feveiro do ano passado, a Administração Nacional de Turismo da China, espécie de Embratur local, lançou uma campanha nacional de etiqueta para a população, que não vê maiores problemas em escarrar para todos os lados, furar fila, empurrar, falar aos berros, andar comendo, buzinar loucamente ou jogar lixo no chão.Em fevereiro, uma pesquisa da Renmin University mostrou que, depois de tanta propaganda, o chamado "Índice de civilização" de Pequim havia atingido 73,38 pontos (o máximo é 100) em 2007, 8,17 pontos acima do índice de 2005. A pesquisa inclui o monitoramento de 320 locais na capital e entrevista com 10 mil pequineses e mil estrangeiros. — É um resultado das campanhas e das multas — disse Sha Lianxiang, professor da universidade a cargo da pesquisa.
De fato, quem mora há algum tempo em Pequim nota uma substancial melhora em hábitos pouco educados da população, como cuspir na rua ou buzinar no trânsito, o que não ocorre com os recém chegados. — As antigas gerações de pequineses são mais difíceis de alterar, mas acho que tanto as campanhas quanto o enriquecimento dos chineses vêm ajudando a melhorar a educação de todos — disse o pequinês Hou Yong Gang, gerente do shopping center Xin Guang Tian Di (foto acima).
A francesa Anna Courte, há dois anos em pequim, discorda: — A melhora é só nas áreas ricas, onde o dinheiro educa as pessoas. Fora de bairros modernos como CBD ou Sanlitun, as pessoas continuam cuspindo, furando fila, sujando as ruas e empurrando no metrô.
A australiana Sophie Lindhan, 42 anos, em visita de uma semana a Pequim, estava horrorizada: — Nunca vi um povo tão grosso. Tirando algumas pessoas que tratam diretamente com o público, como balconistas e vendedores, o resto parece uns bichos.
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